Uma garota de 4 anos está internada há mais 40 dias, em Piracicaba (SP), após contrair a síndrome hemolítica urêmica ao mesmo tempo em que foi diagnosticada com Covid-19. Especialistas do hospital onde ela está em tratamento afirmaram à mãe de Ester Moraes Pecorari que se trata do segundo caso do mundo em criança em que houve combinação da Covid-19 e a síndrome. Médica que a acompanha desde o início, a intensivista pediátrica Fabiana Romero Correa Salvador revela que o caso de Ester é “atípico”.
“Os sintomas começaram no dia 4 de março e a confirmação da Covid-19 no dia 6 do mês passado. Precisou ser internada já no dia 7. Apesar de ainda estar na UTI, o estado clínico dela é bom, mas precisa fazer diálise porque a síndrome atacou os rins”, resume a mãe, Tamiris Pecorari.
Foi cogitada a transferência de Ester para o Hospital das Clínicas, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no entanto, explica a médica Fabiana, os pais é que se deslocaram até a cidade vizinha para aprender a fazer a diálise domiciliar na filha. “Ela continua internada enquanto os pais recebem o treinamento desta diálise específica”.
A síndrome, explica a doutora Fabiana, é uma doença vascular causada a partir da infecção de bactéria. “O trauma da bactéria é que causa a lesão no organismo, rasga as hemácias e consome plaquetas, levando o rim à falência”, detalha.
Segundo a especialista, o caso de Ester é atípico porque a recuperação demorou mais do que o período usual, de duas a três semanas. A existência da Covid-19 ao mesmo tempo da síndrome também intriga o corpo médico da Unimed. “É curioso”, ela aponta.
“Não se sabe ainda se uma doença levou a outra. A síndrome pode vir por um vírus, existe relatos na literatura médica, mas ainda sem evidência se pode vir pela Covid-19”, afirmou.
A principal hipótese é de que Ester tenha contraído o coronavírus do pai, Thiago – Tamiris e os outros dois filhos não foram contaminados. A mãe descarta um eventual contágio na escola porque a menina está afastada das aulas presenciais desde o início da pandemia.
A doença começou com febre alta e diarreia, aponta. “Levamos ela ao hospital e já suspeitaram que se tratava desta síndrome. Comentei, claro, que meu esposo estava com Covid-19. Fizeram alguns testes, deu negativo para o novo coronavírus e voltamos para casa. Dois dias depois e ela apresentou outros sintomas, mais febre e estava desidratada. Voltamos ao hospital e pedi novo teste, que então deu positivo”.
“Fizeram diversos exames na Ester neste período em que está internada. Os primeiros dias foram os piores e inclusive precisou usar cateter para o início da diálise. A síndrome faz com que o sangue coagule e podia até mesmo ter o risco de um AVC”, conta a mãe.
Recuperação
Tamiris conta a emoção de acompanhar a evolução da filha. “Abriu os olhos bem pouquinho, iam do lado e do outro, e ficou uns 25 dias sem falar nada, até que foi tendo melhoras e reagindo. Foi um milagre por dia”, relata a mãe com sorriso, apesar de relevar “dias de pânico”.
Os irmãos também foram impactados pela internação da irmã – não se encontram desde que Ester foi para a UTI no dia 7 de março. “Sempre me perguntam: ‘quando a Ester volta para casa?’”, revela Tamiris. A família ainda teve ajuda psicológica do hospital.
No começo, recorda Tamiris, parecia que a filha tinha medo de médicos e enfermeiros, mas com a melhora, a relação mudou. “Virou amiga de todos, até das outras crianças que estão na UTI com ela. Já se alimenta, toma banho no chuveiro. Está lá apenas pela diálise e disfunção renal mesmo”.
Repercussão pelo mundo
O caso de Ester gerou repercussão pelo mundo. Foi assunto pelas redes sociais e, na internet, pessoas de outros países começaram a enviar mensagens de esperança a Tamiris.
“Não achei que chegaríamos tão longe, com mensagem de pessoas dos Estados Unidos, Japão, de Manaus, que mandavam mensagem pelas redes sociais que ficaram sabendo do caso. Nos sentimos muito acolhidos com a energia e pensamentos positivos”.
Por Portal G1