A 44ª sessão camarária de Santa Bárbara d’Oeste, realizada na tarde de terça-feira (30), foi palco de manifestações, discussões acaloradas e troca de farpas entre os edis.
Entidades, coletivos e líderes de movimentos sociais ocuparam a casa de leis munidos de cartazes, faixas e tambores. Com palavras de ordem, os manifestantes protestaram contra a fala do vereador Felipe Corá (Patriota), durante a 43ª Reunião Ordinária da Câmara, que por meio de pronunciamento, atacou o Dia da Consciência Negra, referindo o feriado ao “dia da hipocrisia e do vitimismo”.
A vereadora, Esther Moraes (PL), fez uso da palavra para endossar a luta do Movimento Negro. Com duras críticas a Corá e pela omissão de parte dos legisladores na deliberação do tema, Esther aproveitou o espaço para evidenciar a carência de pessoas negras em espaços de poder, a desigualdade entre brancos e negros na taxa de desempregados durante a pandemia, além de lembrar sobre o fatídico período de escravidão e das dificuldades da lei áurea, que não foi acompanhada por políticas públicas de inserção social. A vereadora encerrou sua fala reafirmando o compromisso de lutar para que o Dia da Consciência Negra continue instituído no município.
Participaram do ato Representantes da Associação Cultural e Beneficente Carolina Maria de Jesus, Coletivo de Mulheres Negras, Unegro, Capoeira Motta, Movimento Negro Unificado de Campinas, COMED, SindProsbo, entre outras entidades.
Corá rebate o assunto
Na palavra livre da sessão, o parlamentar usou a tribuna para falar sobre o assunto.
“Quando me referi aqui na semana passada a vitimismo, eu me referia a pessoas como desse senhor que está aqui presente hoje, [em referência a Luis Largueza, presidente do PT de Santa Bárbara d’Oeste] que faz todos vocês como massa de manobra, que faz de uma causa como meio de vida e usa todos vocês”.
Após cobrar publicamente a desfiliação de Esther do Partido Liberal (PL), o vereador encerrou sua fala exibindo um quadro com a imagem dele ao lado do presidente da república Jair Bolsonaro, considerando o objeto como uma “cruz para os esquerdopatas”.
Notas de Repúdio
Ao menos cinco entidades e coletivos de classe de Santa Bárbara d’Oeste protocolaram notas de repúdio e pedidos de posicionamento da Comissão de Ética e Decoro da Câmara contra as afirmações do vereador Felipe Corá. As notas manifestam repúdio às falas do vereador barbarense, tratando-as como “ofensivas e racistas”.
A Associação Cultural Beneficente Carolina Maria de Jesus classificou a linguagem usada por Corá como “desprovida de educação e depreciativa, com teor racista e discriminatório”.
“Tais declarações demonstram o despreparo e desconhecimento do vereador sobre a temática racial, e que colidem com a própria Constituição Brasileira, que preconiza ações afirmativas”, diz a associação, em nota. “Nossa luta é pela compreensão de uma sociedade plural e contra qualquer forma de opressão. Racismo não é questão de opinião, racismo é crime”.
A Associação de Capoeira Motta e Cultura Afro, a Câmara Setorial de Cultura Afro Popular e Urbana e o Coletivo de Mulheres Negra Carolina Maria de Jesus destacam que “é inadmissível que um ambiente denominado ‘A Casa do Povo’ e onde há pouco ocorreu a ‘Cerimônia da Medalha de Mérito Zumbi dos Palmares’ seja um ambiente onde é permitido destilar ódio”.
O Conselho Municipal de Educação também emitiu nota:
“Tomados de um profundo sentimento de vergonha, repulsa e aversão frente a esse tipo de conduta, o Conselho Municipal de Educação se solidariza com os 56% da população negra, descendentes das mulheres e dos homens que ajudaram a construir o Brasil com a força de seus braços, suor e sofrimento”.